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segunda-feira, 20 de maio de 2013

BOOKS FEED YOUR MIND I. Livros e escritores que alimentam a mente

 Dou início à publicação de pequenos textos ou excertos de textos de livros e escritores de que gosto. O único critério é o meu gosto pessoal.



Franz Kafka


 O primeiro texto é extraído dos "Diários" de Franz Kafka, na entrada de 30 de Julho de 1914.

 Franz Kafka é um escritor checo de língua alemã e de ascendência judaica, nascido em Praga, em 1883. Por ter morrido de tuberculose em 1924, não acompanhou o destino das suas irmãs, assassinadas pelo regime Nazi.

 Licenciado em Direito, trabalhou em companhias de seguros e era conhecedor do sistema de justiça germânico da sua época, o que se reflecte em vários dos seus escritos.
O texto que aqui dou é perturbadoramente actual, apesar de ter quase cem anos.

A tradução do alemão é de Maria Adélia Silva Melo e a edição é da Difel.



Um escritório onde Kafka poderia ter trabalhado.


    "O director da Companhia de Seguros Progresso estava sempre profundamente insatisfeito com os seus funcionários. Agora todos os directores estão insatisfeitos com os empregados; a diferença entre empregados e directores é demasiado grande para ser transposta por simples ordens da parte do director e simples obediência da parte dos empregados. Só o ódio mútuo pode transpor a diferença e conferir perfeição a toda a empresa.

    Bauz, o director da Companhia de Seguros Progresso, olhou desconfiado para o homem que estava de pé em frente da secretária, que pretendia um lugar na companhia. Olhava também de vez em quando para os papéis que estavam à sua frente, na secretária.

    “O senhor é muito alto” disse ele, “isso vê-se; mas que sabe o senhor fazer? Os nossos empregados têm de saber fazer mais coisas para além de lamberem selos, e até mesmo isso não precisam de fazer, porque essas coisas são automáticas na nossa firma. Os nossos empregados são em parte funcionários, têm trabalho de responsabilidade para desempenhar; o senhor acha que está à altura? A sua cabeça tem uma forma esquisita. A sua testa é muito abaulada. Espantoso. Ora bem, qual foi o seu último emprego? O quê? Não trabalha há um ano? Mas porquê? Teve uma pneumonia? Ah, sim? Bem, isso não é lá uma grande recomendação, pois não? É claro que só empregamos pessoas em perfeito estado de saúde. Antes de ser admitido terá de ser visto por um médico. Agora está mesmo bem? Sim? É claro que é possível. Diga alguma coisa! Faz-me nervos, a falar assim baixinho. Vejo aqui que é casado, tem quatro filhos. E não trabalhou durante um ano! De facto, homem! A sua mulher lava para fora? Está bem. Bom, está certo. Uma vez que já aqui está, veja se o médico o observa agora; o empregado vai mostrar-lhe onde é. Mas isso não quer dizer que nós o vamos empregar aqui, mesmo que a opinião do médico seja favorável. De maneira nenhuma. De qualquer modo receberá pelo correio a participação da nossa decisão. Para ser franco, devo dizer-lhe sem rodeios: não estou nada bem impressionado consigo. Precisamos de um empregado completamente diferente. Mas vá ao médico para ser observado. Olhe que não lhe faz nada bem tremer dessa maneira. Não tenho autoridade para dispensar favores. Está disposto a fazer qualquer trabalho? Toda a gente está. Não é nada de especial. E agora digo-lhe pela última vez: vá-se embora e não me tome mais tempo. Já chega”.

    Bauz teve de dar um murro na mesa para que o homem se deixasse conduzir pelo empregado para fora do escritório do director". 


quarta-feira, 8 de maio de 2013

O autor

  

  O autor em 1966 ou 1967, no eléctrico da Praia das Maçãs, a fazer o que tinha que ser feito...