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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Books feed your mind XVII - Vergílio Ferreira




Storytelling por quem sabe escrever.

"3 de Outubro de 1974. O Flic está a morrer. O Flic é um cão, um dos cães, do Rogério. Encontrei a Titilde, que me anunciou a desgraça. Aliás, o Rogério, referindo-se há dias ao desenlace próximo, tinha lágrimas nos olhos. Vai enterra-lo aqui. Terá lápide? Como amigos, fomos assistindo ao envelhecimento do cão. Tem dezassete, menos três que o Argos, o cão do Ulisses, o mais ilustre canil literário e que foi o primeiro a reconhecer o dono e morreu de comoção. O Flic, quando se comovia, tinha um colapso, caía em terra e mijava-se. É um cão baixo, género lulu, mas em preto. Em toda a sua vida não se lhe conheceram ligações amorosas. E talvez porque desse conta das nossas dúvidas sobre a sua dignidade macha, um dia saiu-se. Há lá uma cadela na casa muito mais alta do que ele. O Flic tentava o golpe, mas não chegava onde devia. Então lembrou-se de subir para um degrau da escada – e cumpriu. Da aventura heróica nasceram dois cães. Pretíssimos. E cometido o feito, seguro de que já não deixava má reputação, Flic aposentou-se e pôs-se a envelhecer. Tinha todos os tiques dos velhos: ressentimento contra os filhos, que eram activos, mordia-lhes sem razão, era guloso. Inchou, já estava quase cego. Chegava-se muito às pessoas, decerto para lhe valerem nalgum aperto. Lá está espapaçado no chão, as patas espalhadas, a babar-se. Creio que lhe vão dar o golpe de misericórdia – uma injecção que acabe com o resto. Era o Flic. Vai morrer. Está um dia de sol outoniço."
Vergílio Ferreira, Conta-corrente 1

sexta-feira, 12 de julho de 2019

BOOKS FEED YOUR MIND XVI - MARCEL PROUST


Um dos inúmeros "Lilases" de Claude Monet.

A chegar ao fim da leitura de Proust. E repentinamente, ao virar de uma página, mais um assombro, mais um encantamento: eis o que se pode dizer desta aventura. Um dos muitos exemplos de que se reveste a escrita deste génio.

"Com o rumor da chuva era-me devolvido o aroma dos lilases de Combray; com o amortecimento dos ruídos no calor da manhã, a frescura das cerejas; o desejo da Bretanha ou de Veneza com o barulho do vento e com o retorno da Páscoa. Chegava o Verão, os dias eram compridos, estava calor. (...) Do meu quarto na penumbra, com um poder de evocação igual ao de outrora, mas que me causava apenas sofrimento, sentia que lá fora, no ar pesado, o Sol que declinava punha na verticalidade das casas, das igrejas, uma fulva pincelada. (...) mas eu virava-me violentamente, sob a descarga dolorosa de uma das mil e uma recordações invisíveis que a todo o momento explodiam na sombra à minha volta..."

Em busca do tempo perdido Vol. 6 "A fugitiva". 

sexta-feira, 8 de março de 2019

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Voltei a escrever. Novidades em breve.



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Recomendações de leitura de Ernest Hemingway a um seu discípulo.