Hermann Hesse
Hermann Hesse foi um
escritor alemão cuja vida e obra marcaram a primeira metade do século XX. Mais
conhecido como o autor de “Siddhartha”, duas das suas obras exerceram um
particular fascínio em mim: “O lobo das estepes” e “Narciso e Goldmundo”, do
qual deixo aqui um dos trechos mais reveladores.
A escrita de Hesse é
magistral e profunda, própria não só do homem culto que foi, mas de um pensador
que reflectiu sobre a natureza da sua arte e do mundo que o rodeia.
Pietá
“…as naturezas da tua espécie, dotadas de sentidos fortes e apurados,
naturezas de anímicos, de sonhadores, de poetas e amorosos, são-nos quase
sempre superiores, a nós intelectuais e servidores do espírito. A vossa origem
é materna. Viveis na plenitude, foi-vos concedida a força do amor e a
intensidade do sentimento. Nós, os servidores do espírito, embora pareça às
vezes que vos guiamos e dirigimos, não vivemos na abundância, vivemos na
carência. A vós pertence-vos a opulência da vida, a suculência dos pomos, o
jardim do amor, o reino belo da arte. A vossa pátria é a terra, a nossa é a
ideia. O vosso perigo é afogar-vos no mundo dos sentidos, o nosso é sufocarmos
no espaço rarificado. Tu és artista, eu sou pensador. Tu dormes no regaço da
mãe, eu velo no deserto. O sol brilha para mim, para ti a lua e as estrelas…”