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terça-feira, 3 de novembro de 2020

Aquilo que é uma redundância


    

Não sou polícia da língua, e muito menos seu apóstolo ou evangelizador; enquanto património comum e língua viva, cada um fará dela o uso que mais lhe convier. Porém, não posso deixar de confessar que sinto ultimamente uma pequena irritação: a moda do “aquilo que é” por tudo e por nada, e mais por nada e a propósito de tudo.

Desde a política – “Aquelas que são as medidas implementadas aplicam-se àqueles que são os concelhos com mais casos, de modo a conter aquilo que são surtos localizados e assim, proteger aquela que é a população” (com toda a certeza, alguém já terá dito isto, ou pior, nas conferências de imprensa da DGS) – até ao desporto – “vamos disputar aquela que é a partida com aqueles que são os nossos melhores jogadores, de forma a conseguirmos fazer aquele que é o nosso jogo e assim alcançarmos aquilo que é a vitória e trazer para casa aqueles que são os três pontos” (raros são os treinadores que não se expressam desta maneira), esta redundância tornou-se numa praga difícil de suportar.

Se o “acordo” “ortográfico” roubou o “p” à óptica, lançando assim a confusão entre a vista e o ouvido, e se confundimos os verbos “ter” e “haver” quando comemos sílabas e dizemos “tive este Verão no Algarve”, se o princípio da economia serve para alguma coisa, podíamos aplicá-lo aqui e passar bem sem aquela que é esta irritação.