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segunda-feira, 20 de junho de 2016

O PODER DA MÚSICA V BEETHOVEN

Tenho um não muito extenso número de compositores favoritos. Esta depuração talvez seja da idade. Ultimamente, tenho vindo a ouvir cada vez mais Beethoven.


As minha obras preferidas do mestre de Bonn são os quartetos de cordas, seguidas pelas sonatas para piano, mas para esta ocasião, trago a terceira sinfonia, em duas abordagens.

A mais convencional é uma leitura de Christian Thielemann com a Wiener Philarmoniker.


A outra pretende recriar a apresentação da obra num filme muito interessante, com a Orchestre Revolutonaire et Romantique dirigida por John Elliot Gardiner (que não aparece) em instrumentos de época.



As actuações são tiradas do Youtube. Os links para os respectivos videos estão em mensagens separadas.






sexta-feira, 10 de junho de 2016

Books feed your mind XI - Robert Musil

Robert Musil

"O homem sem qualidades"



Estou a ler "O homem sem qualidades" de Robert Musil, escritor austríaco (1880-1942) quase ignorado em vida e que morreu exilado na Suíça, fugido ao regime nazi.
Musil foi um homem de uma vasta cultura, tendo estudado engenharia, filosofia, matemática e psicologia. Foi jornalista, obviamente, escritor, e era também um grande melómano. 
Estas e outras qualidades reflectem-se nesta sua obra que, mais do que um romance, é um projecto romanesco, talvez propositadamente inacabado porque não tem princípio nem fim, antes abarca uma época e um lugar (o fim do Império Austro-Húngaro às vésperas da primeira grande guerra), permitindo ao leitor o vislumbre de uma era perdida.

Deixo um excerto que ilustra as qualidades de observação, argúcia e reflexão do autor a propósito de um tema inusitado, a moda. Este excerto poderia figurar em qualquer livro sobre o assunto ou até num catálogo de uma exposição comissionada por uma grande museu.




A moda, tal como era na década de 1910...



...e o que se fantasiava com ela.

A tradução do original é de João Barrento.

"...Nessa época as mulheres usavam vestidos fechados, do pescoço aos tornozelos. Os fatos dos homens são hoje mais ou menos como eram então, mas nessa altura eram mais apropriados, porque representavam ainda um sinal exterior, orgânico, da impecável unidade e da estrita discrição que eram apanágio do homem do mundo. Nesses tempos, até uma pessoa sem preconceitos e liberta da vergonha de admirar um corpo despido teria considerado a exposição da nudez, essa límpida forma de integridade, como uma recaída na condição animal, não pela nudez em si, mas pela renúncia ao efeito erótico e civilizado do vestuário. Na altura, aliás, dir-se-ia que era uma recaída abaixo da animalidade, porque um cavalo de três anos ou um galgo a brincar são muito mais expressivos na sua nudez do que qualquer corpo humano. Por outro lado, eles não podem usar roupa, só têm uma pele; mas naquela época os humanos tinham ainda muitas peles. Com os grandes vestidos, os seus folhos, as mangas de balão, as saias rodadas, panos, rendas e franzidos, conseguiam criar uma superfície cinco vezes maior do que a original, formando um cálice pleno de pregas, de difícil acesso, carregado de tensão erótica, e que escondia no seu interior o pequeno animal branco que era preciso procurar, e por isso se tornava muito mais desejável. É o processo habitual da natureza, quando faz as suas criaturas eriçar pêlo e plumas ou ejacular nuvens de tinta, para elevar à sublime loucura, no desejo ou no terror, os actos prosaicos que constituem afinal o objectivo dessas formas de comportamento."