Joseph
Conrad, escritor de língua inglesa mas de origem polaca, foi um dos mais
modernos homens de letras do seu tempo.
Viajado e
cosmopolita – foi embarcado na marinha mercante - correu mundo e buscou
inspiração e enredo em muito do que viu e sentiu.
Da sua
colectânea de contos, sugestivamente chamada “Tales of unrest” e que teve para
português a tradução de “Histórias inquietas”, deixo um excerto do conto “Um
posto avançado do progresso”.
Os "civilizadores" e os "selvagens". Quem era quem?
“Viviam
como cegos numa sala grande, apercebendo-se apenas do que entrava em contacto directamente
com eles (e apenas imperfeitamente), incapazes de ver o aspecto geral das
coisas. O rio, a floresta, toda aquela extensão de terra palpitante de vida,
eram, para eles, apenas uma imensa solidão. Mesmo a luz brilhante do sol não
lhes revelava o que quer que fosse. As coisas apareciam-lhes e
desapareciam-lhes da frente dos olhos sem intencionalidade nem ligação. O rio
parecia vir de nenhures e correr para nenhures. Fluía no vazio. Deste vazio, às
vezes, saíam canos e homens com lanças nas mãos que invadiam dum momento para o
outro o pátio do posto. Vinham nus, dum negro reluzente, eram perfeitos de
membros e usavam adornos de conchas brancas e fios de latão ao pescoço. Falavam
num blá-blá estranho e gutural, caminhavam com altivez e lançavam com aqueles
olhos espantados e sempre em movimento olhares rápidos e selvagens. Os
guerreiros acocoravam-se em compridas filas de quatro ou mais homens em frente
à varanda, enquanto os chefes discutiam durante horas com Makola sobre uma
presa de elefante. Sentado numa cadeira, Kayerts seguia da varanda o debate sem
perceber patavina. Olhava para eles com os olhos azuis muito abertos e chamava
por Carlier em voz alta: - Olhe! Olhe para aquele tipo ali; e o outro, à
esquerda. Já viu alguma vez uma cara assim? Que animal!”