Não sou
polícia da língua, e muito menos seu apóstolo ou evangelizador; enquanto
património comum e língua viva, cada um fará dela o uso que mais lhe convier.
Porém, não posso deixar de confessar que sinto ultimamente uma pequena irritação: a moda do “aquilo
que é” por tudo e por nada, e mais por nada e a propósito de tudo.
Desde a
política – “Aquelas que são as medidas implementadas aplicam-se àqueles
que são os concelhos com mais casos, de modo a conter aquilo que são
surtos localizados e assim, proteger aquela que é a população” (com toda a certeza, alguém já terá dito isto, ou pior, nas conferências
de imprensa da DGS) – até ao desporto – “vamos disputar aquela que é a
partida com aqueles que são os nossos melhores jogadores, de forma a
conseguirmos fazer aquele que é o nosso jogo e assim alcançarmos aquilo que é a vitória e trazer para casa aqueles que são os três
pontos” (raros são os treinadores que não se expressam desta maneira), esta redundância
tornou-se numa praga difícil de suportar.
Se o “acordo”
“ortográfico” roubou o “p” à óptica, lançando assim a confusão entre a vista e
o ouvido, e se confundimos os verbos “ter” e “haver” quando comemos sílabas e
dizemos “tive este Verão no Algarve”, se o princípio da economia serve para alguma
coisa, podíamos aplicá-lo aqui e passar bem sem aquela que é esta
irritação.