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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A ESTUPIDEZ DO "ACORDO" "ORTOGRÁFICO"



Rua dos Fanqueiros, Lisboa, 2020
Tenho visto muito boa gente repudiar o AO, fazendo porém, a coisa certa pelas razões erradas: 
Uns esgrimem o argumento "imperial" (os outros ex-impérios não fazem acordos ortográficos com as suas ex-colónias, porque haveríamos nós de o fazer?); 
Outros, a tese da "pureza" da língua (qualquer alteração à língua é uma corrupção e conspurcação da mesma, vamos deixá-la para sempre tal como ela está);
E há os que denunciam a sua ilegalidade (o AO é um tratado internacional e as normas das convenções internacionais não podem ser subvertidas para forçar a sua aprovação, o que aconteceu, pelo que o AO é nulo). 
O primeiro argumento, por supor uma visão estreita e distorcida da História, é fascista;
O segundo, por ignorar que o português é uma língua viva, é obtuso;
E o terceiro, por se ater apenas a uma visão jurídica do problema, é formalista.
O "acordo" "ortográfico" tem dois problemas: Não é acordo, nem é ortográfico.
Por não normalizar (o que seria, desde logo o seu escopo), não é acordo, e por inovar, não é ortográfico.
Pretender que uma língua pluricêntrica como o português se escreva com um critério único é não compreender a essência e a riqueza dessa pluricentralidade. A língua portuguesa não é uniformizável, visto que diferentes povos em diversas latitudes a falam e escrevem em estádios de evolução distintos.

A dinâmica da língua está vedada aos ortografistas; estes são meros "notários" ou "tabeliões" da língua que se devem limitar a observar e registar a sua evolução e não a inventar regras estúpidas, sermão que nunca lhes foi encomendado.
O protagonismo na inovação linguística estará reservado aos que a falam e, sobretudo, aos que a escrevem, desde logo, aos "bons autores", critério fundamental e historicamente aceite para a evolução da ortografia ao longo dos tempos. Não perceber isto é não perceber nada de português. 

1 comentário:

  1. Os Falantes de uma língua, seja o português ou outra, são os primeiros as fugir à norma. A verdade, no entanto, é que os linguistas levam anos a aceitar que a oralidade passe a norma.
    No entanto, a língua é um organismo vivo e renova-se de acordo com as necessidades linguísticas. Esta pandemia mostra - nos isso. Muitos vocábulos já existentes ou o surgimento de neologismo tornaram-se parte da norma. São usados na ciência, na politica, pelos Falantes em geral. Precisaremos de novo acordo. Um dia talvez, para que sejam norma.
    Não creio nos acordos ortográficos que se regem por interesses políticos.
    Demorei algum tempo a adotar o novo acordo. Repensei a minha atitude. Não posso fazer o que me aprouver. Tenho de pensar no ensino da língua, da literatura e da cultura portugueses às gerações novas. No presente o acordo é a norma. Não posso não aceitar a realidade. Não posso comprometer o futuro destes jovens.

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