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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

FERNANDO PESSOA - AVISO POR CAUSA DA MORAL.




 O poeta pintado por Almada Negreiros.



 "Ser novo é não ser velho. Ser velho é ter opiniões. Ser novo é não querer saber de opiniões para nada. Ser novo é deixar os outros ir em paz para o Diabo com as opiniões que têm, boas ou más - boas ou más, que a gente nunca sabe com quais é que vai para o Diabo."

Aviso por causa da moral.

Álvaro de Campos




 Apanhado em "flagrante delitro" numa taberna da baixa.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O PODER DA MÚSICA VII - Música de Câmara



Música de câmara.

Beethoven - Quarteto de cordas n.º 9 Op. 59 n.º 3  "Rasumovsky".
(quarto movimento)




  Um quarteto de cordas formado por jovens músicos filmado como se fosse um videoclip de música Pop.


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

BOOKS FEED YOUR MIND XIV _ROBERT MUSIL

Ainda Musil.



Robert Musil


 A opinião do austríaco conde de Leinsdorf, personagem de "O homem sem qualidades", sobre  a vizinha Alemanha. 
 Cem anos depois, poderíamos ler hoje as mesmas observações num jornal...se nos jornais se fizesse jornalismo.





Com estas patilhas, Johann Strauss II bem podia ser o Conde de Leinsdorf.


O Reich alemão antes da grande guerra. Duas guerras depois, ficou mais pequenino...



 "Talvez a Alemanha fosse o país menos unido espiritualmente, no qual cada um podia encontrar um alvo para a sua antipatia pessoal (...) era um país agressivo, ávido, fanfarrão e perigosamente imprevisível como qualquer grande massa excitada; mas tudo isso, afinal, era europeu, e apenas poderia parecer um pouco europeu de mais a alguns europeus. Parece simplesmente que tem que haver seres, figuras indesejadas, sobre os quais se deposita o mal-estar, o desentendimento, por assim dizer os resíduos de uma combustão lenta que a vida de hoje vai deixando para trás."

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O PODER DA MÚSICA VI - LIGETI

Ligeti: Mysteries of the macabre


Berliner Philarmoniker
Sir Simon Rattle (dir)
Barbara Hannigan (sop)


Quem disse que a música contemporânea era aborrecida?

Do compositor de origem húngara György Ligeti, a bela soprano canadense Barbara Hannigan mostra todo o seu talento e a sua incrível voz numa divertida leitura de Simon Rattle com solistas da Filarmónica de Berlim. No youtube há videos da peça completa.


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

BOOKS FEED YOUR MIND XIII - 2

Susan Sontag

de "O amante do vulcão":




A baía de Nápoles com o Castello dell'ovo à direita e o Vesúvio ao fundo

O sul do sul

 "Todas as culturas têm os seus meridionais - gente que trabalha o menos possível, preferindo dançar, beber, querelar, matar as mulheres infiéis; (...) um maravilhoso sentido do ritmo, e encanto, encanto, encanto; gente pouco ambiciosa, ou antes, indolente, ignorante, supersticiosa, desinibida, nunca pontuais (...) que mau grado a sua pobreza e sordidez levam vidas invejáveis - ou antes, invejadas pelos setentrionais sacrificados do trabalho, sensualmente inibidos e com governos menos corruptos".

 "Todos os países, mesmo os países do Sul, têm o seu sul: abaixo do equador fica o Norte. Hanói tem Saigão, São Paulo tem o Rio, Deli tem Calcutá, Roma tem Nápoles e Nápoles, que para os do cimo da península que pende da barriga da Europa era já África, Nápoles tem Palermo, em forma de meia-lua"...)".  

BOOKS FEED YOUR MIND XIII - SUSAN SONTAG


 Acabei de ler "O amante do vulcão" de Susan sontag, escritora com quem tomo contacto pela primeira vez.


Susan Sontag


 A obra baseia-se na vida de Sir William Hamilton, embaixador britânico na corte de Nápoles, aristocrata do século das luzes, inveterado colecionador e, no final da vida, um dos mais notórios cornudos do seu tempo; é o que dá, casar com uma mulher muito mais nova!


Sir William e a sua primeira mulher, Catherine


 Decorrendo a accção no passado (1772-1815), a inteligente estratégia narrativa afasta-se da usada no romance histórico, e a cultura e o trabalho sério de investigação da autora poupam ao leitor a "erudição de wikipédia" que hoje grassa como uma praga entre este género literário.

 O texto versa sobre o amor (ao belo, à arte, ao conhecimento, mas também o dos que se amam) e o tempo de mudança que é o da revolução e o da substituição da velha ordem pela nova.


Emma Hamilton, a bela segunda mulher de Sir William

 Sendo a autora mulher e tendo como protagonistas várias mulheres, não encontramos no entanto a cedência a uma escrita feminil ou feminista, mas antes um texto fluído, vivo e exigente, que convoca a literacia e erudição do leitor.

 Deixo um excerto no próximo post.

terça-feira, 12 de julho de 2016

BOOKS FEED YOUR MIND XII - WILLIAM SHAKESPEARE (2)



  A peça abre com o famoso monólogo de Gloucester, futuro Rei Ricardo III, e o leitor/espectador fica logo a saber quem é o personagem, tal é a força da linguagem utilizada por Shakespeare.


  A tradução de Henrique Braga, na edição da Lello, é antiga e hoje seria absolutamente censurável devido às liberdades de que o tradutor lança mão; e todavia há nela uma poesia muito própria que a enriquece, ainda que em detrimento do respeito pelo texto original.

  Laurence Olivier incarnou o personagem talvez como nunca ninguém o fez antes ou depois dele.

  "O sol de Iorque mudou em Primavera o Inverno dos nossos infortúnios, e todas as nuvens que pairavam ameaçadoras sobre a nossa casa imergiram-se nos profundos abismos do oceano. Agora cingem nossa fronte os virentes louros da vitória, as nossas amolgadas espadas suspendemo-las como troféus; aprazíveis reuniões substituíram as nossas contendas armadas, e às marchas guerreiras seguiram-se as agradáveis músicas da dança. Desanuviou-se a fronte ameaçadora do guerreiro feroz; em vez de montar o seu cavalo de batalha e de infundir o terror nos corações inimigos, dança com pé ligeiro, em feminis aposentos, ao som encantador da voluptuosa harpa. Mas eu, que nem sou dado a alegres porfias, nem a mirar-me desvanecido ao espelho, eu, cuja aparência grosseira não possui em graças picantes as precisas para as patentear a uma ninfa voluptuosa e sedutora, eu, a quem a caprichosa natureza negou belas formas e nobres feições, eu, que ela colocou neste mundo dos vivos antes do prazo natural, disforme, incompleto, apenas esboçado, e isso mesmo por um modo tão defeituoso e desagradável, que os cães me perseguem ladrando, quando passo coxeando ao pé deles; durante esses efeminados divertimentos da paz, não me resta outro meio de me entreter, senão olhar para a minha sombra, quando o Sol brilha, e analisar a minha própria deformidade. Pois bem, já que à minha figura não convém a parte de namorado, e que não tenho o dom de agradar, resolvi tornar-me um celerado, e criar ódio a estes frívolos passatempos." 

BOOKS FEED YOUR MIND - XII WILLIAM SHAKESPEARE


  Um dos momentos-chave de qualquer enredo ficcional reside na caracterização física e psicológica dos personagens, pois é a partir daqui que o leitor vai estabelecer com estes, laços que perdurarão na leitura da obra e para além dela, sejam de simpatia, admiração, indiferença ou repulsa, consoante a intenção do autor.

  E conheço poucas caracterizações mais decisivas do que a abertura de "Ricardo III", de Shakespeare para causar essa primeira impressão ao leitor.

  Esta obra foi-me revelada quando estudava Direito Penal e o Prof. Doutor Faria Costa (hoje, Provedor de Justiça, e à época, assistente do Prof. Eduardo Correia) nos citou esta passagem, a propósito da Teoria da Culpa. 

  Devem os agentes que praticam crimes serem censurados também por aquilo que são ou em que voluntariamente se tornaram, ou apenas pelos actos que praticam sem conexão com a sua personalidade? Somos culpados por aquilo que somos ou por aquilo que fazemos?

  (A passagem segue no próximo post).

segunda-feira, 20 de junho de 2016

O PODER DA MÚSICA V BEETHOVEN

Tenho um não muito extenso número de compositores favoritos. Esta depuração talvez seja da idade. Ultimamente, tenho vindo a ouvir cada vez mais Beethoven.


As minha obras preferidas do mestre de Bonn são os quartetos de cordas, seguidas pelas sonatas para piano, mas para esta ocasião, trago a terceira sinfonia, em duas abordagens.

A mais convencional é uma leitura de Christian Thielemann com a Wiener Philarmoniker.


A outra pretende recriar a apresentação da obra num filme muito interessante, com a Orchestre Revolutonaire et Romantique dirigida por John Elliot Gardiner (que não aparece) em instrumentos de época.



As actuações são tiradas do Youtube. Os links para os respectivos videos estão em mensagens separadas.






sexta-feira, 10 de junho de 2016

Books feed your mind XI - Robert Musil

Robert Musil

"O homem sem qualidades"



Estou a ler "O homem sem qualidades" de Robert Musil, escritor austríaco (1880-1942) quase ignorado em vida e que morreu exilado na Suíça, fugido ao regime nazi.
Musil foi um homem de uma vasta cultura, tendo estudado engenharia, filosofia, matemática e psicologia. Foi jornalista, obviamente, escritor, e era também um grande melómano. 
Estas e outras qualidades reflectem-se nesta sua obra que, mais do que um romance, é um projecto romanesco, talvez propositadamente inacabado porque não tem princípio nem fim, antes abarca uma época e um lugar (o fim do Império Austro-Húngaro às vésperas da primeira grande guerra), permitindo ao leitor o vislumbre de uma era perdida.

Deixo um excerto que ilustra as qualidades de observação, argúcia e reflexão do autor a propósito de um tema inusitado, a moda. Este excerto poderia figurar em qualquer livro sobre o assunto ou até num catálogo de uma exposição comissionada por uma grande museu.




A moda, tal como era na década de 1910...



...e o que se fantasiava com ela.

A tradução do original é de João Barrento.

"...Nessa época as mulheres usavam vestidos fechados, do pescoço aos tornozelos. Os fatos dos homens são hoje mais ou menos como eram então, mas nessa altura eram mais apropriados, porque representavam ainda um sinal exterior, orgânico, da impecável unidade e da estrita discrição que eram apanágio do homem do mundo. Nesses tempos, até uma pessoa sem preconceitos e liberta da vergonha de admirar um corpo despido teria considerado a exposição da nudez, essa límpida forma de integridade, como uma recaída na condição animal, não pela nudez em si, mas pela renúncia ao efeito erótico e civilizado do vestuário. Na altura, aliás, dir-se-ia que era uma recaída abaixo da animalidade, porque um cavalo de três anos ou um galgo a brincar são muito mais expressivos na sua nudez do que qualquer corpo humano. Por outro lado, eles não podem usar roupa, só têm uma pele; mas naquela época os humanos tinham ainda muitas peles. Com os grandes vestidos, os seus folhos, as mangas de balão, as saias rodadas, panos, rendas e franzidos, conseguiam criar uma superfície cinco vezes maior do que a original, formando um cálice pleno de pregas, de difícil acesso, carregado de tensão erótica, e que escondia no seu interior o pequeno animal branco que era preciso procurar, e por isso se tornava muito mais desejável. É o processo habitual da natureza, quando faz as suas criaturas eriçar pêlo e plumas ou ejacular nuvens de tinta, para elevar à sublime loucura, no desejo ou no terror, os actos prosaicos que constituem afinal o objectivo dessas formas de comportamento."